sexta-feira, 30 de julho de 2010

Design de Moda - Sinônimo de Competitividade

     Atualmente, o mercado de moda no Brasil está investindo no design para obter produtos diferenciados e ganhar mais espaço no cenário internacional.  “O mundo do design, a partir da moda, se conscientizou do seu  caráter estratégico como elemento  condicionante da competitividade das empresas produtoras do vestuário”  (Gimeno, 2000:199).  

     Roberto Chadad, presidente-executivo da Abravest – Associação Brasileira do Vestuário, opina que “os fabricantes brasileiros devem aprimorar seus produtos para competir pela qualidade, e não pelo preço, com produtos internacionais”.

    Esta idéia se sustenta com a presença de países com alto custo de produção, estar entre os maiores exportadores, tanto de têxteis quanto de vestuário. Atualmente, e os menores custos não são a única fonte de vantagem competitiva. Países como Itália e Alemanha, com elevados custos como mão-de-obra, voltaram-se para a produção de produtos com maior valor agregado a partir de estratégias de flexibilização da estrutura produtiva, com ênfase no design e no marketing destes produtos.

     O objetivo da gestão do designer de moda é apresentar respostas,o mais prontamente possível,  a qualquer variação na demanda ocasionada por mudanças no comportamento do consumidor. Estas estratégias podem ser consideradas como fatores de competitividade para a cadeia produtiva têxtil-vestuário e se tornaram as vantagens competitivas construídas pelas empresas. 

     Independentemente das estratégias adotadas, o design agrega valor ao produto, já que é possível haver uma redução dos itens referentes a formação do preço, através da economia de insumos, redução da matéria prima, racionalização da produção e otimização do processo, além do aumento da qualidade e dos atributos valorizados pelos consumidores, como desempenho e aparência. 

   Nota-se que fatores recentes como a união dos vários setores da cadeia têxtil, em associações e instituições, e a profissionalização do setor, principalmente através da formação de designers de moda em cursos superiores, ajudaram no reconhecimento internacional que a moda brasileira vem recebendo na mídia. 

     “Se o designer não tem mais a oferecer do que o manejo de questões de estilo, não alcançará os pontos nevrálgicos da civilização contemporânea” (Bonsiepe, 1987:26), portanto é inconcebível a idéia de que o design esteja unicamente limitado ao setor de criação. “Apenas com a absorção completa do design pela estrutura organizacional e com a adoção de uma postura proativa, é que os produtos da empresa conseguirão se posicionar da melhor maneira possível no mercado, destacando-se da concorrência e consolidando a imagem da empresa frente aos seus clientes” (Santos, 2000:108). 

   Diante de um mercado global, a solução para o setor é a Gestão do Design de Moda. A técnica dominante é a especialização flexível, a polivalência dos recursos humanos. A divisão entre concepção e execução, entre gerência e oficina, estabelece uma nova dinâmica, que não deve ser mais de conflito. A mão-de-obra, por sua vez, é vista cada vez menos como despesa do que como recurso e fator de produção.

    Face aos programas de qualidade das empresas e à globalização da economia, é necessária a inserção de profissionais capazes de gerenciar todo o processo da moda, bem como exercer a função de agente integrador de várias áreas nas indústrias. 

    A forte influência da moda no mundo têxtil traz para cena do jogo, além de atributos como benefícios e qualidade, atributos como design e marca. O design de seu produto pode se tornar sua maior vantagem competitiva. Várias empresas no meio têxtil crescem e prosperam baseadas no design distinto de suas coleções de tecidos/roupas. Elas conseguem ter em suas coleções, produtos com design que agreguem além de estética, funcionalidade e praticidade. O objetivo é obter a aceitação dos consumidores, seja no mercado de massa ou em nichos específicos. 

   Liderança em design é com certeza uma grande receita para crescimento e rentabilidade. Contudo, as empresas que adotam estratégias de foco em design devem tomar cuidado para que, além de garantirem a aceitação do seu público-alvo, sejam ágeis nas mudanças/introduções de novos itens, pois a indústria da cópia está sempre de olhos nelas.


por  Sandra  Rech
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – UFSC / UDESC


quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Gestor de Design de Moda


Peixe (1996) alega que o designer, e neste texto reinterpretado como gestor de design de moda, deve ser um criador com uma visão ampla do processo produtivo, exercendo influência desde a escolha de materiais, produção, comunicação, lançamento, comercialização até a reciclagem de produtos industriais, sintetizando neste conjunto o profissional do século XXI, habilitado a compreender todas as facetas de um problema: do cultural ao tecnológico, do econômico ao ecológico, habituado a trabalhar em equipes com profissionais de diversas áreas. 

Bonsiepe (1997) enumera alguns requisitos profissionais exigidos a um designer:
1) a observação e a análise das tendências do mercado em termos de design;
2) a formulação das especificações de uso de um produto;
3) a elaboração de cenários de uso para novos produtos e sistemas de produtos;
4) a interpretação e a tradução das contribuições do marketing para a realidade do mercado;
5) a elaboração de anteprojetos, dos detalhes técnicos e formais, e de propostas para o acabamento, cores, texturas e design gráfico do produto;
6) a participação na escolha dos materiais e dos processos de fabricação;
7) a interpretação dos “testes” dos usuários;
8) a contribuição para a criação de uma identidade corporativa; e,
9) a avaliação da compatibilidade ambiental dos projetos.

Moraes (1996:121) propõe que um bom designer [e um bom designer de moda] deve possuir qualidades como criatividade e intuição, além de conhecimentos tecnológico e cultural aliado a uma metodologia eficaz de trabalho, “e, ainda, um grande percentual de ética, humildade e de espírito corporativo”. O profissional com estes caracteres tem grande chance de competir no mercado e o possibilita desenvolver produtos melhores e diversificados. “O design, por sua aproximação com o saber, no sentido de know how e de propulsor de novas idéias, no sentido de criatividade, está  inserido como [...] um dos principais elementos diante da competição entre as nações” (Moraes, 1996: 117). 

Atualmente, o trabalho do gestor de design de moda inclui não somente a criação de linhas de produtos mas também a consultoria sobre criação, manutenção e eliminação de novos produtos no mercado, sobre a antecipação das necessidades e desejos dos usuários, sobre as noções de conhecimentos ecológico, social e cultural, e de uma forma mais aberta, a orientação quanto aos novos caminhos a serem escolhidos e seguidos na sociedade pós-industrial. O profissional de design trabalha com “valores e projeções futuras” (Moraes, 1996:130), considerando que o produto não está acessível ao consumidor no momento em que foi percebida a sua necessidade, por causa do tempo dedicado às fases de criação, desenvolvimento e produção. As ciências sociais e comportamentais fornecem a sustentação teórica para “suas conclusões projetuais” (Moraes, 1996:131). A criação não se realiza mais na frente de um computador ou junto a uma prancheta de desenho, mas sim, através da coleta de dados observando e analisando o comportamento do consumidor. Munari (1982) disserta que a existência de uma metodologia para projeto de criação é o que diferencia o artista do designer. Enquanto o artista elabora obras carregadas de conceitos pessoais, através de métodos e técnicas intuitivas; o designer necessita de um método para o projeto, já que, “livre de preconceitos artísticos”, utiliza matéria-prima e técnica que o permitam criar produtos adequados às funções prática, estética e psicológica a que se destinam. É interessante ressaltar que projeto e metodologia são aspectos distintos e que o projeto é uma das etapas do método de trabalho do designer. 

“É através do projeto que as necessidades levantadas são resolvidas e encaminhadas para a reprodução em série, por meio de matrizes elaboradas para a fabricação industrial. Mas também fazem parte dessa metodologia o levantamento e a análise dos dados apurados, por exemplo, etapas anteriores ao projeto e que servem a ele como base de informação. A metodologia de trabalho em design pressupõe uma maneira própria de abordar e resolver os problemas. O designer pode usá-la para atuar também como planejador e como assessor, funções alheias à atividade de projeto. É um engano, portanto, afirmar que metodologia e projeto são uma coisa só” (Escorel, 2000:101). 

Segundo as idéias de Juran (1997:166), e conduzidas da mesma maneira por Escorel (2000), o projeto é “o processo de fabricação das características dos mesmos, exigidas para a satisfação das necessidades dos clientes” e parte fundamental do desenvolvimento de produtos. Produtos resultantes de projetos de design tam um melhor desempenho que aqueles desenvolvidos pelos métodos empíricos e são obtidos em um curto espaço de tempo, considerando “conceito” e “cliente” como os pólos terminais do ciclo de desenvolvimento.

O trabalho em equipe, também, é exigido pelo desenvolvimento de produto, pois é uma “atividade eminentemente interdisciplinar”, entretanto a somatória da bagagem de conhecimentos e habilidades de diferentes profissionais deve ser adequada às exigências do departamento de criação (Baxter, 2000). 

O designer possui uma visão diferenciada daquela do profissional de marketing, já que a sua análise do mercado não é realizada de maneira imediata e segmentada (Moraes, 1996). “A constante evolução e modificação de processo da prática de design devido à sua aproximação com disciplinas tecnológicas e culturais, psicológicas e comportamentais fazem desta atividade uma eterna discussão aberta e avançada. A tradução e antecipação das necessidades do usuário do futuro, sintetizada através de um produto ou um objeto, não é na atualidade somente um desafio para os homens de marketing e para os empresários responsáveis pela produção industrial. De igual valor também, cabe esta tarefa ao designer que tende a funcionar como um verdadeiro intérprete mediador entre usuários e a produção industrial” (Moraes, 1996:129).

Portanto, considerando o design como um dos instrumentos utilizados para o desenvolvimento de novos padrões de qualidade para a indústria brasileira, e, uma das ferramentas estratégicas para a competitividade, é fundamental que o responsável pelo desenvolvimento de produtos esteja próximo “à direção da empresa, para auxiliá-la na tomada de decisões e se manter informado de suas tendências. Da área de produção, possibilitando que as decisões tomadas pela direção se convertam em produtos de fato. Da área de marketing, que traz as informações sobre o mercado, providencia campanhas e acompanha a imagem do produto e da empresa com o público.[...] Quanto mais próximo do consumidor estiver o produto ou serviço, quanto maior a concorrência na preferência do consumidor e quanto mais freqüente sua necessidade de renovação, maior deve ser a integração da área de design na empresa” (A Importância do Design para sua Empresa, 1998:34).

Zaccai (1996:50) salienta que as novas exigências dos consumidores oportunizaram que empresas criativas pudessem competir com empresas maiores, e às vezes, tecnologicamente mais desenvolvidas. Assevera, também, que as empresas brasileiras ao inserirem a Gestão do Desing Total na sua estrutura administrativa, podem “alavancar o insight e os talentos singulares de seus designers industriais de maneira estratégica”.

Este processo inclui cinco fases:
1. a inclusão dos designers no início do processo de desenvolvimento do produto;
2. a pesquisa e a análise estratégica do cliente;
3. a identificação das oportunidades de design dirigido pelo consumidor;
4. a implementação o mais rápido possível da Gestão do Design Total;
5. a extração de vantagens e benefícios de cada oportunidade.

por Sandra Rech
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção – UFSC / UDESC